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A urgência da proteção de indígenas refugiados no Brasil

A etnia Warao representa 65% do contingente de indígenas deslocados forçadamente da Venezuela para o país

 

Texto: Júlia Barbosa

A Agência da ONU para Refugiados publicou, recentemente, um estudo sobre o deslocamento da população indígena Warao no Brasil, que teve seu lançamento oficial realizado no dia 15 de abril, em cerimônia ao vivo pelo canal do youtube da Acnur. A publicação, com o nome “OS WARAO NO BRASIL: Contribuições da antropologia para a proteção de indígenas refugiados e migrantes”, é fruto de um trabalho colaborativo de mais de três anos. Nele, propõe-se uma discussão apoiada por muita pesquisa e reconhecimento da causa sobre a maior população indígena venezuelana refugiada no Brasil.

Chegada e acolhimento no Brasil

De acordo com a pesquisa, realizada pela antropóloga Marlise Rosa com a colaboração das comunidades Warao, os primeiros grupos indígenas venezuelanos chegaram ao Brasil, em busca de proteção internacional, em 2014, com os Warao, e o fluxo se intensificou em 2017. Desta forma, a partir de 2018, a ACNUR, a ONU, e organizações da sociedade civil começaram a mobilização para o acolhimento e a proteção destes grupos no país.

No entanto, a resposta governamental aos refugiados e migrantes indígenas não deve ignorar a necessidade de estratégias que garantam a manifestação e exercício de suas culturas, seus hábitos, sua língua e seus costumes. Desta forma, o esforço existe para que esta resposta seja adequada, culturalmente, para atender às especificidades destes grupos. “O idioma, o canto, a dança Warao, levamos todos no coração, e vamos transmitir aos nossos filhos e netos, para que também saibam de onde viemos, onde estamos e para onde vamos”, afirma Maricela Borja, artista Warao refugiada no Brasil, no vídeo-documentário produzido pela Acnur.

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Acnur disponibiliza a publicação "OS WARAO NO BRASIL - Contribuições da antropologia para a proteção de indígenas
refugiados e migrantes" nas versões em português e espanhol

 

Contribuições do estudo

A pesquisa traz novos dados sobre as comunidades Warao em deslocamento no país, com análises sobre a organização e reconfiguração deste grupo, que vem para o Brasil na busca de proteção e vida digna. Atentando-se para a garantia do exercício de suas culturas, hábitos e relações no território brasileiro, a publicação visa, ainda, apoiar as estratégias e articulações colaborativas na questão dos indígenas refugiados.

Segundo a pesquisadora Marlise Rosa, a publicação propõe algumas contribuições da antropologia para a proteção dos Warao no Brasil, com o exercício da alteridade, para a compreensão da diversidade e complexidade da presença destes grupos no país. Assim, o estudo se desenvolve a partir da interseccionalidade e do reconhecimento da heterogeneidade interna dos indígenas Warao, partindo de um olhar interseccional para a garantia de seus direitos e acolhimento.

Durante o evento virtual de lançamento da publicação, o refugiado Warao Efrain Ramos traz uma reflexão sobre a situação de seu povo na Venezuela: “O povo Warao se encontra em pobreza extrema e em violações de direitos humanos. A crise que a Venezuela sofre, nós não fomos os causadores dessa tragédia irreparável. Se não se tomam medidas de ajuda humanitária, vamos ao vazio”. 

Efrain afirma, ainda, que os motivos do deslocamento dos indígenas venezuelanos são muitos, mas que a motivação mais severa foi e está sendo a fome. Um trecho da publicação relata a realidade de um refugiado Warao, enquanto ainda não havia chegado ao território brasileiro: “Ainda em 2017, um indígena Warao, à época vivendo na cidade de Manaus, relatou que, antes de virem para o Brasil, ele e sua família alimentavam-se apenas com restos de comida encontrados no lixo. Eles saíam às ruas, rompendo os sacos de lixo em busca de alimentos”.

A médica e colaboradora Warao para a pesquisa, Fiorella Ramos, explica que são fundamentais a representação e o reconhecimento indígena para que se criem laços de lutas, tanto no Brasil, quanto na Venezuela, para a busca de seus direitos. Segundo o professor e membro da Cátedra Sérgio Vieira de Mello da UFRR, João Jarochinski, os povos originários sofrem por múltiplas vulnerabilidades. "Historicamente, os conflitos sociais e a tentativa da construção de uma subalternidade social sempre foi marcada em relação aos povos indígenas”, afirma o professor.

Desta forma, o estudo se coloca como uma contribuição de extrema importância, garante Sebastian Roa, Oficial de Proteção para Indígenas da Acnur e que mediou a atividade de lançamento da publicação. O debate, a criação e as articulações de estratégias eficazes para a proteção e acolhimento dos refugiados Warao no Brasil necessitam, portanto, da atenção e urgência de um problema que não espera.

 

Acesse a publicação completa da Acnur, disponibilizada em português e espanhol

Confira todos os vídeos da Acnur sobre a população indígena refugiada e migrante no Brasil

 

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