
Pensar a questão do refúgio ambiental é tarefa para o presente
Professora enfatiza urgência de agirmos nos movimentos migratórios ambientais
Texto: Guilherme de Andrade
Imagem: Consequências do rompimento de barragem em Brumadinho. Uarlen Valério/O Tempo/Estadão Conteúdo.
No dia 22 de abril ocorreu uma aula aberta com uma das fundadoras da Rede Sul Americana para Migrações Ambientais (RESAMA), Érika Pires Ramos. O tema central da discussão foi voltado para as questões dos refugiados ambientais, tema da especialização da professora. Durante encontro, foi destacada a urgência de se pensar nas migrações ambientais e em suas origens.
No senso comum, a imagem que temos ao se mencionar a questão dos refugiados motivados por causas ambientais é a de algo distante tanto no tempo quanto no espaço. No entanto, ficou claro que o refúgio ambiental é algo que acontece aqui e agora. Ilhas no oceano Pacífico que desaparecem ao longo dos anos, os rompimentos de barragens e o desmatamento no Brasil já forçam deslocamentos no presente.
A professora Érika destacou que ao se tratar de desastres ambientais e suas consequências, é necessário pensar não somente nas causas físicas da tragédia, mas também no lado social. Mesmo que alguns desses acontecimentos não ocorram pela ação humana, por exemplo no caso de um terremoto, as diferenças entre as sociedades geram impactos distintos, mesmo que sob ação de fenômenos da natureza semelhantes. Um terremoto no Chile, país que conta inclusive com legislação que prevê tais situações, não terá o mesmo efeito que um terremoto no Haiti, lembremos da tragédia de 2010. Políticas de Estado voltadas para a questão ambiental salvam vidas, sua prática deve se estender por todo o mundo.
Em sua exposição, a professora afirmou que, no Brasil, o rompimento das barragens de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em 2019, são simbólicos. De reassentamentos não terminados até a ausência de punição devida aos culpados vemos que a prioridade do Estado era com o bem-estar das empresas envolvidas. As comunidades ribeirinhas ficaram relegadas ao segundo plano na gestão da crise.
Propondo um caminho para tratar a questão, a professora apontou para a relação entre os territórios e as comunidades tradicionais. A fim de evitar tragédias ambientais, a ação local guiada pelas práticas das comunidades tradicionais se mostra um caminho menos conflituoso, mais barato e mais eficaz. A preservação de uma floresta pelos povos indígenas, ou o cuidado de um rio pela comunidade ribeirinha que lá habita é ferramenta mais eficiente que a ação do Estado na prevenção de catástrofes e de movimentos migratórios movidos por causas ambientais.
Devemos esquecer a imagem que vem do senso comum que coloca a pauta ambiental para discussão futura. No Brasil, essa realidade já afeta a vida das pessoas e a tendência é que se torne uma pauta ainda mais importante e presente. Como sugerido no encontro com a professora Érika, a solução para esses problemas é de natureza sócio-ambiental. Pensemos no território que é afetado, escutando sempre os saberes das comunidades locais que vivem dele. A imigração ambiental é algo indesejado, portanto se faz necessária a defesa da terra.
Categorías: NOTÍCIAS