Tela do computador durante o início da transmissão, com a presença de Silvia Sander, Marcelo Lemos, Júlia Veloso, Maria Beatriz Nogueira, Tiago Lima e Diogo Felix

Relatório sobre o povo Warao e atuação nas redes é divulgado em live

A live “Atuação do ACNUR  junto às Redes Locais em Apoio à População Indígena Warao no Sudeste e Sul do Brasil: Boas Práticas e Lições Aprendidas”, apresentou informações e estratégias das redes de proteção locais ao povo Warao

 

Heloisa Sousa

Imagem: Reprodução do Youtube

 

No dia 31 de maio (segunda-feira) foi lançado na live “Atuação do ACNUR  junto às Redes Locais em Apoio à População Indígena Warao no Sudeste e Sul do Brasil: Boas Práticas e Lições Aprendidas”, o relatório de atuação da Agência da ONU para Refugiados (Acnur). O relatório, que está disponível online para acesso do público, abrange as ações para a integração do povo Warao que compreende o período de novembro de 2019 a março de 2021.

A live, que foi dividida em três momentos, foi mediada por Silvia Sander, Assistente Sênior de Proteção da ACNUR. A primeira mesa foi iniciada com a fala de Maria Beatriz Nogueira, chefe do escritório Acnur em São Paulo, que trouxe a importância da acolhida culturalmente sensível como parte do trabalho envolvendo a recepção dos imigrantes Warao.

“Esse relatório vem visibilizar, vem tratar e vem de certa forma celebrar um método de trabalho que foi construído muito organicamente nesse período a partir dos desafios que se constituem da chegada das populações indígenas Warao no nosso território”, continua Maria Beatriz. 

Diogo Felix, Coordenador de projetos da Organização Internacional para Migrações no Rio de Janeiro, deu continuidade à mesa. Ele falou sobre o trabalho nas áreas de assistência ao acolhimento temporário aos indígenas, dando destaque à parceria com o governo de Goiás para a promoção do acesso à saúde e à importância do trabalho em rede. 

Além disso, falou da contribuição das Cáritas Brasileiras, da Universidade de Brasília (UnB) e da prefeitura de São Sebastião, que inicia agora no mês de junho dois cursos profissionalizantes e um curso de introdução ao português voltado para grupos Waraos que vivem no Distrito Federal.

Fechando esta primeira mesa de apresentação, Yolis Lyon, Analista Social no Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados em Belo Horizonte e indígena Warao, falou da importância de se entender a cultura, a linguagem, a caminhada e a migração forçada vivida pelo povo Warao. “A gente traz uma vivência, uma bagagem cultural diferente. Que essa diferença venha a somar a essa sociedade, a gente está aqui para contribuir”, concluiu. 

 

As redes locais

O segundo momento da live apresentou representantes locais das articulações das cidades de Belo Horizonte, Montes Claros, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, São Paulo, Uberlândia e Porto Alegre. Essa rede faz parte da criação de sete Grupos de Trabalho, criados pela Acnur São Paulo, para o compartilhamento de diretrizes e experiências na acolhida aos indígenas Warao em cada região.

Dessa forma, os GTs englobam agentes do poder público, sistema de justiça, sociedade civil, organismos internacionais e universidades para construir ambientes de discussão e planejamento centrados na abordagem da escuta sensível e proteção comunitária aos migrantes Warao.

A mesa foi iniciada com a fala de Marcelo Lemos, Coordenador do Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados em Belo Horizonte. Ele se atentou para a superação da ideia de emergência para pensar também medidas a longo prazo, como acesso à moradia e o trabalho como gerador de renda também conectado com elementos da interculturalidade local. 

Elaine Medeiros, Secretária Municipal de Assistência Social de Nova Iguaçu, deu seguimento falando da importância de incluir as crianças Warao na rede escolar e também daquelas que já nasceram em solo brasileiro. Articulações junto à Universidade Federal do Rio de Janeiro para que a população tenha garantia de renda também já estão sendo feitas no GT de Nova Iguaçu.

Tiago Lima, da Organização de Trabalho de Apoio a Migrantes Internacionais (TAARE) em Uberlândia, também trouxe a questão da inclusão das crianças nas redes de ensino locais e da articulação para conseguir Buritis, matéria-prima dos artesanatos feito pelos indígenas Warao e que são parte da sua geração de renda. 

Júlia Veloso, Coordenadora do Centro de Referência em Direitos Humanos de Montes Claros, falou dos desafios superados com a chegada do povo Warao em Montes Claros, que inicial

mente foram tratados com políticas para pessoas em situação de rua. O idioma, segundo ela, também tem se mostrado um desafio, já que a maioria dos indígenas refugiados só fala sua língua materna. 

E fechando a mesa, Mario Fuentes, Coordenador da Unidade dos Povos Indígenas, Refugiados e Direitos Difusos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Porto Alegre, falou sobre a vacinação contra a Covid-19, que já foi realizada na população Warao, que é considerada grupo de risco. 

A organização de webnários sobre a semana dos povos indígenas e da população migrante pelo GT de Porto Alegre é outro ponto levantado por Mario. “Que a migração seja abordada com apelo humanitário, mas também com um trabalho pedagógico e permanente. Com campanhas fortes de conscientização”, finalizou.

 

Deslocamento dos Warao no Brasil

Os indígenas Warao têm buscado refúgio no Brasil desde 2014 em um movimento que se intensificou no ano de 2016. Os movimentos de migração da Venezuela para o Brasil correspondiam principalmente à região norte do país em 2018, mas atualmente já existem grupos Warao no Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Lyvia Barbosa apresenta o relatório sobre a Atuação do ACNUR junto às Redes Locais em Apoio a Indígenas Warao no Sudeste e Sul do Brasil durante a transmissão.

 

O relatório apresentado por Lyvia Barbosa, Assistente Sênior de Proteção do Escritório do Acnur em São Paulo, fez parte da última mesa da live e traça a trajetória dos Warao no território brasileiro e os perfis de cada grupo por região. Um estudo intitulado “OS WARAO NO BRASIL: Contribuições da antropologia para a proteção de indígenas refugiados e migrantes” já havia sido publicado pela Acnur em abril deste ano.

O relatório descreve detalhadamente o acompanhamento de 306 indígenas Warao pelos sete GTs criados nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Nesses grupos é desenvolvido um modelo de plano de ação para guiar o estabelecimento de prioridades em cada rede.  Dessa forma, três eixos principais servem de passo a passo para a identificação dessas prioridades: articulação e estabelecimento dos GTs, análise de proteção e o encaminhamento aos órgãos responsáveis.

A organização e visibilização das experiências comparadas acumuladas por redes das regiões Norte, Sul e Sudeste são importantes para preparar os métodos de trabalho utilizados na integração e proteção dos indígenas Warao no território brasileiro. Trabalhar nos grupos alternativas sustentáveis e seguras para garantir também que os Warao se tornem autossuficientes com o tempo é um dos principais desafios apresentados.

 

Você pode ler o relatório completo por meio do link: Atuação do ACNUR junto às Redes Locais em Apoio a Indígenas Warao no Sudeste e Sul do Brasil

Assista a live na íntegra por aqui.

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