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Estado Zero: Refugiados, cultos e transtornos mentais em pauta em série da Netflix

Em 2005, uma história incomum de uma mulher desaparecida levantou discussões sobre a questão da imigração na Austrália. Em 2020, o ocorrido inspirou uma série da Netflix.

Por Letícia de Lucena Vaz

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        Fonte: Netflix.

A série australiana Estado Zero (Stateless, no original em inglês) acompanha a história de dois personagens com histórias muito diferentes: a comissária de bordo australiana Sofie Werner (interpretada por Yvonne Strahovski) e o professor refugiado afegão Ameer Ahmad (interpretado por Fayssal Bazzi).

Após vivenciar atritos em sua família, Sofie sente-se acolhida pelo grupo Growing One's Potential Achievements (cultivando potenciais conquistas, em tradução literal). O grupo funciona como uma espécie de seita que mistura eventos e atividades de dança a aconselhamentos com os líderes Pat (interpretada por Cate Blanchett, que também produz a série) e Gordon Masters (interpretado por Dominic West).

Sofie acaba sendo expulsa do grupo e passa a apresentar um quadro delicado de saúde mental. Sua família busca auxílio psiquiátrico, mas, depois de um tempo, Sofie desaparece.

A história da personagem é baseada na de Cornelia Rau, uma comissária de bordo alemã-australiana. Cornelia se envolveu com o grupo Kenja, o qual, conforme reporta o portal de notícias australiano news.com.au, enfrentou acusações de abuso sexual e conduta inadequada com membros com transtornos mentais, as quais foram negadas pelo grupo e seus fundadores.

Após deixar o grupo, Cornelia passou dez meses desaparecida. Ela foi identificada por familiares em uma reportagem publicada no jornal The Age em janeiro de 2005, a qual mostrava uma mulher misteriosa encontrada no centro de detenção para imigrantes Baxter.

Cornelia passou a usar um nome falso e, como sua identidade e nacionalidade não foram provadas, ela foi encaminhada para o centro, onde viveu por três meses.

Na série, Sofie também vai para um centro de detenção, onde convive com os “não-cidadãos ilegais” (UNC, na sigla em inglês).

Um deles é Ameer, um professor que foge do Afeganistão com sua esposa e duas filhas após a ascensão do grupo Talibã.

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Cena do trailer retrata Ameer e sua família tentando chegar ao barco que os levará à Austrália. Fonte: Canal Netflix no YouTube.

Apesar de não ser inspirado em uma pessoa específica, Ameer e sua família representam os muitos refugiados fugindo de situações que ameaçam suas vidas. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados estima que existam cerca de 2.5 milhões de refugiados afegãos, sendo que, só nesse ano, 270 mil pessoas se tornaram refugiadas no país após o contexto do avanço do Talibã e da retirada de tropas internacionais.

A série permite a compreensão de situações vivenciadas pelos refugiados, como a travessia perigosa em barcos improvisados, a esperança de uma vida melhor e a angústia da vivência prolongada em campos de detenção, dada a demora na avaliação de pedidos de asilo.

Além disso, questões como violência e preconceito são levantadas enquanto os refugiados buscam visibilidade para sua situação. Esses elementos podem ser percebidos na seguinte fala, extraída de um diálogo entre Sofie e um dos refugiados:

“Quando sair daqui, e você vai sair, as pessoas estarão interessadas em você, o lírio entre os juncos. Elas vão querer saber: por que alguém parecido com elas fica preso num lugar como esse?”.

Os seis episódios de Estado Zero estão disponíveis na Netflix e o trailer pode ser conferido abaixo:

Estado Zero | Trailer oficial | Netflix - YouTube 

 

 

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