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Para onde vão os refugiados afegãos?

Tomada de poder pelo Talibã no Afeganistão motiva aumento do deslocamento forçado no país

Por Letícia de Lucena Vaz

Em meio a crises e mudanças de poder (você pode conferir alguns pontos que marcaram a história do país clicando aqui), o Afeganistão foi perpassado por grandes deslocamentos forçados ao longo de sua história (gráfico abaixo).

Gráfico

Gráfico mostrando a migração da população provocada por situações de ameaça à vida e à segurança, como a guerra contra os soviéticos (entre os anos de 1984 a 1989) e o primeiro governo Talibã (de 1996 a 2001). Verifica-se também um aumento nessa situação desde 2014, período em que tropas dos Estados Unidos e aliados ainda ocupavam a região, mas a presença Talibã era simultaneamente verificada. Fonte: elaboração própria a partir de dados da Acnur. 

 

Em 2020, o país se tornou o terceiro com maior número de pessoas forçadas a buscarem outras regiões. Com 2,5 milhões de refugiados, 2,8 milhões de deslocados internamente e 240 mil requerentes de asilo, o país está atrás apenas de Síria (com 6,8 milhões entre refugiados e requerentes de asilo e 6,7 milhões de deslocados internamente) e Venezuela (com 4,9 milhões de deslocados ao todo), segundo dados de 2020 do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).

Ao longo de 2021, o deslocamento forçado já vinha aumentando no Afeganistão, tendo a Acnur registrado 400 mil refugiados apenas entre os meses de janeiro e julho. A tomada de poder pelo Talibã ocorrida no dia 15 de agosto causa novas preocupações com a possibilidade de aumento dessa tendência.

Mas para onde vão os refugiados afegãos?

O próprio Afeganistão

A Acnur classifica as pessoas deslocadas internamente como aquelas que não cruzam as fronteiras para buscar refúgio. Assim, elas permanecem dentro de seu próprio país sob a proteção de seu governo, mesmo que esse governo seja a razão que forçou a sua partida. Em 2020, 2,8 milhões de pessoas já se encontravam nessa situação no Afeganistão.

Ainda não existem dados oficiais que contemplem os desdobramentos mais recentes. Entretanto, uma matéria da BBC mostra como o Talibã avançou sobre o território do Afeganistão, especialmente entre regiões rurais, ao longo de 2021. Essa situação é apontada como motivadora do aumento do deslocamento interno por Beatrice Daubt, mestranda em conflitos internacionais e violência nas sociedades contemporâneas pela Unesp, Unicamp e PUC-SP e estudiosa do Afeganistão. 

Países vizinhos: Paquistão e Irã

Mapa

Mapa mostrando o continente asiático, com destaque para as fronteiras entre Afeganistão, Paquistão e Irã. Fonte: Google Maps.

A Acnur afirma que 73% das pessoas que saem de suas casas como alternativa a perseguições e ameaças verificadas em suas regiões, vivem em territórios vizinhos aos seus países de origem.

No caso do Afeganistão, Paquistão e Irã historicamente abrigaram a maior parcela de refugiados oriundos do país fronteiriço. É o que se pôde verificar em momentos como o conflito no Afeganistão contra a União Soviética a partir de 1979, ano em que o Irã abrigou 100 mil afegãos e o Paquistão 400 mil.

Já em 1992, início da guerra civil do Afeganistão, 2,9 milhões de afegãos buscaram refúgio no Irã e 1,6 milhão no Paquistão. Em 1996, com a chegada do Talibã ao poder no Afeganistão, os números passaram a ser de 1,4 milhão no Irã e 1,2 milhão no Paquistão.

Situação atual

Em 2020, ano mais recente com dados já disponibilizados, Paquistão e Irã ainda são os países com a maior parte dos refugiados afegãos, com respectivamente 1, 4 milhão e 780 mil. Na sequência, estão Alemanha com 148 mil, Áustria com 40 mil e França com 31,5 mil.

Na situação atual, o papel de Paquistão e Irã, entre outros países vizinhos, ainda se destaca como parte da reação da União Europeia à crise. O bloco afirma, em um comunicado divulgado à imprensa, a intenção de “se envolver e fortalecer o apoio a terceiros países, em particular países vizinhos e em trânsito hospedando grande número de migrantes e refugiados, para reforçar suas capacidades de fornecer proteção, condições de recepção digna e segura e sobrevivência sustentável para refugiados e comunidades anfitriãs.”

O documento ainda aponta o compromisso com a “cooperação com esses países para evitar a imigração ilegal vinda da região” e “a recorrência de movimentos de imigração ilegal descontrolados e em larga escala como os enfrentados no passado”.

Para Daubt, o plano configura “não uma preocupação com cooperação mútua e coordenada para receber essas pessoas, mas, pelo contrário, uma espécie de ‘empurra-empurra’ de responsabilidades”. Assim, a situação é analisada por ela como uma contradição entre as intenções expressas e a prática efetivada.

Parte dos países na comunidade internacional anunciaram planos para receber números determinados de refugiados. Alguns deles, segundo o jornal Gazeta do Povo, são:

  - Reino Unido: 20 mil

  - Canadá: 20 mil

  - Austrália: 3 mil

  - Tajiquistão: 100 mil

A CNN também aponta que o Irã se propõe a receber refugiados anunciando que eles podem ser repatriados posteriormente, enquanto o Paquistão tem desenvolvido campos temporários. O jornal destaca que que estimativas do número de pessoas a serem acolhidas não foram divulgadas.

Além disso, alguns países manifestaram apoio em termo de assistência financeira. Segundo o Gazeta do Povo, os Estados Unidos falavam em alocar até 500 milhões de dólares (cerca de R$ 2,7 bilhões) para atender refugiados, sem divulgar números em relação à população que espera receber. Já o Poder 360 aponta a intenção preliminar da União Europeia de mobilizar até 1,1 bilhão de euros (cerca de R$ 7 bilhões) em resposta à crise.

Tags: #Afeganistão #Refugiados #Acnur #ONU #CSVM #UFG

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