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O Início e o Fim de um Longo Projeto de Ensino e Acolhimento

O projeto MOVE implementado por duas professoras do Instituto Federal de Goiás, que visa ensinar Português a refugiados e indígenas, chega ao seu final após 5 anos

O projeto Movimentos Migratórios em V (MOVE) teve início em 2017, proposto pelas professoras Suelene Vaz da Silva e Mirelle Amaral de São Bernardo, com o objetivo de ensinar e acolher imigrantes em situação de vulnerabilidade residentes da região metropolitana de Goiânia e da cidade de Goiás. Reaplicado em 2018 e 2019 e mais uma vez em 2020, com parceria da professora Cleide Araújo Machado, antes de se tornar um programa do Instituto Federal em 2021. Completamente voluntário, o programa é uma colaboração de professores e alunos da graduação, assim como egressos do IFG. 

Com a adição dos alunos indígenas da comunidade Xavante, o projeto foi ampliado a fim de lidar com as diferentes necessidades. De acordo com o livro “Português como Língua de Acolhimento” publicado pelas três professoras em relação ao projeto, este se desdobrou em duas linhas no processo de adaptação aos novos alunos. A primeira linha visava a criação de uma turma de português como segunda língua para alunos da comunidade Xavante enquanto a segunda, criava uma turma de português como segunda língua para alunos do Programa do Governo Federal Pec-G.

“Alunos e egressos são os professores de português na perspectiva de língua de acolhimento (PLAc),” relatou a professora e coordenadora do projeto, Suelene Vaz. Ela também explicou que os professores do IFG e IF Goiano são os orientadores desses professores, desde o planejamento à adaptação/criação do material didático e a execução das aulas. Os professores dos Institutos também dão apoio no estudo teórico metodológico da vertente de ensino de PLAc no contexto Brasil/Goiás/Goiânia. Em 2020 houve o acréscimo do estudo de tecnologias digitais e seu uso para o ensino de outros idiomas. 

“Eu me juntei ao projeto MOVE a partir de um convite da equipe de professores e de colegas,” contou uma das professoras do projeto e egressa do IFG, Thalia Marques de Andrade. A jovem professora disse ter escolhido essa área por ser apaixonada pelo ensino de português como língua de acolhimento e segunda língua, declarando que a possibilidade de oferecer acolhimento aos cidadãos refugiados teve grande influência nessa escolha. Em 2020 e 2021 o programa se tornou remoto devido a pandemia, no entanto, apesar da mudança de local a maioria dos aspectos de ensino continuaram os mesmos, com exceção da frequência das aulas.

“As aulas em 2020 ocorrem na modalidade síncrona, duas vezes por semana, com a duração de 1h30min cada encontro, no ambiente Google Meet”, a coordenadora explicou. Ela acrescentou em seguida que em 2021, a frequência foi reduzida para uma vez por semana, devido a falta de recursos para auxiliar os alunos na compra de dados de internet para continuarem a acompanhar as aulas. Outras plataformas também utilizadas como o Youtube e o Google Classroom também são usadas para facilitar tanto para os professores quanto alunos. 

Suelene, como desenvolvedora do projeto, disse que o processo de ensino de Português como língua de acolhimento é oferecer aos imigrantes mais recursos para minimizar as barreiras que eles enfrentam no processo de integração à comunidade. Ela acredita que é necessário respeito quanto às origens e idiomas nativos dos alunos, evitando aculturação e a mistificação de que com o conhecimento do Português haverá uma grande mudança em suas vidas. O respeito pela cultura e origem dos alunos é algo que todos os envolvidos no programa parecem ter em comum.

“Para mim a oportunidade de ensinar português para refugiados é preciosa e única,” Thalia declarou. Também pontuou que ao compartilhar os conhecimentos culturais e linguísticos do Brasil, possibilitando a maior inserção dos alunos na realidade brasileira, os professores aprendem junto, com suas culturas, experiências e conhecimentos.

Ambas as professoras disseram possuir boas relações com os alunos, Thalia acentuando que a relação se volta em torno de respeito e compreensão, estando atentas as dificuldades e diferenças em relação a todos os envolvidos. A coordenadora explicou que antes da pandemia, sua relação com os alunos era mais próxima, devido a facilidade de comunicação, sempre os ajudando com o que precisavam e que estavam ao seu alcance. Ela relatou que até mesmo se relacionava com suas famílias, já que muitos levavam crianças e outros familiares para as aulas.

“Em ambiente virtual, como estou na coordenação, não tenho contato direto com a maioria deles'', disse Suelene, apontando que geralmente quem faz a ponte entre ela e o aluno nesse novo ambiente é o professor orientador. No fim, de acordo com ela, a cooperação e participação de todos é de suma importância, mas que nada nem ninguém é mais importante que o outro. Suelene enfatizou que ninguém é mais importante do que ninguém, sejam eles brasileiros ou de outras nacionalidades.

É esse pensamento que deu forças para que o projeto continuasse por cinco anos, mas que infelizmente encontrou seu fim neste ano de 2022, no final de seu primeiro semestre. Esse fim é possível apenas pela debilitação da saúde da coordenadora, que declara que apesar de ser um trabalho gratificante, ainda é árduo e demanda muita dedicação. “Acredito que está no momento de outros servidores proporem ações na perspectiva de acolhimento aos imigrantes,” expôs Suelene, na esperança de que seu trabalho seja um legado a perdurar.

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