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Na Moldávia, brasileira ajuda refugiados ucranianos a reencontrarem suas famílias

Janaína Garcia, 36, é agente humanitária em missão pela Cruz Vermelha e tem viabilizado o contato e a troca de informações de familiares separados pela guerra na Ucrânia

Há quase 200 dias, o mundo acompanha as notícias da invasão do território da Ucrânia pelas tropas da Rússia, causando destruição de cidades, milhares de mortes e, sobretudo, uma avalanche de refugiados, uma situação sem previsão para terminar. 

Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU) e de sua agência para refugiados, o Acnur, mais de 10 milhões de pessoas deixaram a Ucrânia desde o começo da guerra; destes, 2,9 milhões foram para outros países europeus, como Alemanha, República Tcheca, Itália e Polônia; e 6,5 milhões estão deslocados dentro do próprio país. 

Janaína Garcia, 36, é natural de São Carlos (SP), formada em Relações Internacionais e membro do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Ela partiu em missão para a Moldávia – país que faz fronteira com a Ucrânia –, onde contribui em ações para minimizar os impactos da guerra na vida das famílias ucranianas separadas pela guerra. 

RESTABELECER VÍNCULOS 

Janaína atua na CICV desde 2014 e já participou de missões humanitárias no norte e no sul da África, no Iraque e no Afeganistão. Atualmente, ela atua diretamente em um projeto que busca o restabelecimento de laços familiares, que percorre a Moldávia conhecendo a realidade dos refugiados e ajudando-os a encontrar membros da família que também deixaram a Ucrânia ou lá permaneceram. 

A Cruz Vermelha, organização internacional que tem o intuito de garantir proteção às pessoas que sofrem as consequências de conflitos armados, desde o início da guerra na Ucrânia recebeu mais de 27 mil telefonemas e e-mails de pessoas que buscam notícias de entes queridos afetados pelo conflito armado. 

O projeto do qual a agente humanitária brasileira faz parte busca identificar as famílias separadas, cadastrar as informações, viabilizar o contato e reuni-las novamente nos países onde estão abrigadas. 

“Acompanhei esposas, jovens e crianças angustiadas e desesperadas por notícias do esposo, do pai, dos avós e demais parentes. Ouvimos isso na voz delas, lemos isso em sua expressão de dor”, afirmou Janaína em entrevista ao O SÃO PAULO, destacando que o conflito separou famílias que, por diversos fatores, podem nunca mais se reencontrar. 

RECONECTAR FAMÍLIAS 

Segundo relatórios da CICV, o projeto em que a brasileira atua conseguiu aproximar, por meio de notícias sobre o destino ou o paradeiro de entes queridos, quase 3 mil famílias afetadas pelo conflito. 

“As informações fornecidas a cada uma dessas famílias causam um grande alívio. Tantas outras famílias ainda esperam notícias, e mesmo à medida que dias e meses passam sem nenhuma informação, não perdem a esperança do reencontro”, contou Janaína. 

“Nossa missão é confortar e reconectar familiares separados”, disse, enaltecendo que em paralelo existem outras ações que acompanham as iniciativas na Moldávia: doação de alimentos, roupas, remédios, entre outras. 

Janaína ressaltou que a atividade de reunir famílias é uma missão humanitária tão importante como a de fornecer comida, abrigo, remédios ou um copo de água. “É uma garantia dada pelo Direito internacional e, sobretudo, uma questão de resgate da dignidade humana – unindo-as com as pessoas que amam”, disse. 

COLETAR INFORMAÇÕES 

A brasileira destacou que a atividade exige um trabalho em conjunto com as lideranças dos países. O cadastramento das informações nos abrigos, os cadastros realizados pelos voluntários nas fronteiras são uma via de acesso para a coleta de dados e para a viabilização do possível contato com os parentes. “Somos conhecidos pelos vários trabalhos realizados no mundo e recebemos ligações das pessoas em busca de familiares. A partir daí, começamos um processo de identificação e cruzamento de informações até chegar na pessoa buscada”, frisou. Janaína ressaltou que, quando os refugiados chegam à Moldávia, o CICV faz um cadastro com vários fatores documentais: nome e idade de todos os parentes, em que cidade ucraniana estavam, como e quando se separaram e para onde cada qual poderia ter partido em busca de refúgio. 

Além do sofrimento da falta de contato ou informações de familiares, outra realidade em meio ao cenário de migração por causa de conflitos armados, destacou Janaína, é a situação de ter que abandonar tudo às pressas e partir em busca de sobrevivência em países e locais desconhecidos. 

“Ouvir a dor do outro, a empatia, a solidariedade e a generosidade são elementos importantes na atuação humanitária, neste momento de guerra. Com o trabalho realizado, é possível restabelecer o contato seja por telefonema, e-mail ou reencontro pessoal. E é extremamente gratificante e reconfortante ver o encontro de famílias”, afirmou. 

Janaína evidenciou que a maior procura por informações de familiares é feita por mulheres, uma vez que grande parte dos homens permaneceu na Ucrânia, convocada pelo governo local, para defender o país. 

FRONTEIRAS ABERTAS 

A brasileira salientou que a Moldávia é considerada a nação mais pobre da Europa. Segundo dados da ONU, mais de 500 mil refugiados ucranianos atravessaram a fronteira e lá estão. 

“A Moldávia, no começo do confronto, preparou aproximadamente 90 espaços para acomodação, espalhados de norte a sul, para abrigar quem chegava ao país em busca de ajuda, além de oferecer serviços de saúde, acesso à internet e incentivo governamental às famílias moldavas que abrigassem em suas casas migrantes”, recordou a agente, que está no país há seis meses. 

Fuente: O São Paulo

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